Apesar do desconhecimento por parte da maioria das pessoas, o álcool também é considerado uma droga psicotrópica, pois ele atua no sistema nervoso central, provocando uma mudança no comportamento de quem consome, além de ter potencial para desenvolver dependência. O álcool é uma das poucas drogas psicotrópicas que tem seu consumo admitido e até incentivado pela sociedade. Por esse motivos ele é encarado de forma diferenciada, quando comparado com as demais drogas, sendo uma condição frequente, atingindo cerca de 5 a 10% da população adulta brasileira.
O alcoolismo não difere psicologicamente da dependência de outras drogas. Assim, tanto as fases como o desenvolvimento emocional do dependente e a recuperação são idênticas, não importando qual a droga de escolha, seja ela o álcool, cocaína, crack, maconha ou qualquer outra droga alteradora de humor.
Com toda essa carga negativa sobre a dependência química, como um dependente químico (dependente de álcool e outras drogas), em sã consciência poderia admitir que é um dependente? Assim, conforme a dependência química vai evoluindo), tanto o dependente quanto os familiares vão desenvolvendo uma "MURALHA PSICOLÓGICA" que impede que o indivíduo entre em contato com a realidade da dependência. Por isso, devemos lembrar que é uma DOENÇA, não uma falta de caráter. O alcoólatra e o dependente de outras drogas, realmente se tornam o mito, se tornam tudo aquilo que sempre tiveram medo de ser, através do que a psicologia chama de "profecia auto-realizadora". Isso ocorre por não conseguirem entrar em contato com determinados sentimentos. Esses sentimentos são totalmente normais em nós, seres humanos e devem ser desenvolvidos para que não assumam o controle da situação.
Espírito de grupo: (Principalmente na adolescência, onde não queremos ser tratados como "diferentes" ou como "babacas").
Curiosidade: (Fala-se tanto no assunto, como será que é?). Cultura (em algumas sociedades começa-se a beber ainda criança).
Incentivo dos pais: (Que bebem e dão aos filhos para que provem).
Orientação médica: (Biotônico Fontoura é um bom exemplo).
Outros fatores sociais: (Anúncio de TV, entre outros).
Predisposição Orgânica: caracterizada principalmente pela tolerância.
Benefícios: fatores sociais que reforçam o uso.
As quatro fases do alcoolismo:
Fase 1 : (Fase social, sem dependência física, apenas dependência Emocional). Inicia-se na primeira vez que se bebe (lembrando-se que dois fatores são fundamentais: Predisposição Orgânica e Benefícios, do contrário a doença não se desenvolve). O primeiro sintoma é a dependência Emocional. O desenvolvimento emocional pára e a pessoa torna-se pouco tolerante. Como geralmente isso acontece na infância ou na adolescência, a mudança emocional geralmente não é percebida, pois confunde-se com malcriação, infantilidade ou temperamento forte. A partir daí, a doença desenvolve-se mais ou menos devagar, dependendo da predisposição orgânica. Bebe-se pouco e socialmente, não há perdas em virtude do uso. Não há problemas físicos.
Fase 2: (Fase social, sem dependência física, apenas dependência emocional). O organismo modifica-se: tem-se a tolerância aumentada (bebe-se mais que na fase 1) . Não há problemas em conseqüência da ingestão de álcool. Não há problemas físicos. Não há dependência física, apenas emocional.
Fase 3: (Fase problemática, com dependência física e emocional). Bebe-se muito (altíssima tolerância).O beber torna-se um problema. Muitos problemas emocionais, ressacas constantes, problemas em decorrência da bebida , problemas familiares, problemas de relacionamento. Há o inicio da síndrome de abstinência, começam as "PARADAS ESTRATÉGICAS", pode-se haver internações. Há boas expectativas de recuperação física. Há muitas perdas. Perda de controle.
Fase 4: (Fase problemática, com dependência física e emocional). Bebe-se muito pouco, menos que na fase 1. Inicia-se a atrofia do cérebro. Pode-se ter delírios. Pode-se ter as mãos trêmulas por períodos excessivamente longos. Problemas físicos e emocionais extremos. Pode-se ter Esquizofrenia. Muitas vezes confunde-se com PMD (psicose maníaco-depressiva). Há poucas expectativas de recuperação física. Perdas extremas.
Mecanismos de defesa:
As 4 fases do alcoolismo apresentam determinados sintomas semelhantes, que são os MECANISMOS DE DEFESA, decorrentes do preconceito em relação ao alcoólatra. Na realidade os mecanismos de defesa são mentiras que o alcoólatra ou dependente químico usa para tentar encobrir o aspecto doentio da própria vida, tais como:
Negação : (O mais comum). "Não sou alcoólatra, sou compulsivo. Nunca fiquei bêbado. Não tenho problemas em decorrência da bebida. Bebo muito pouco".
Justificativa: "Bebo porque gosto, paro na hora que quiser. Bebo para relaxar. Bebo para comemorar. Bebo para esquecer. Bebo para ouvir música. Bebo devido a problemas emocionais. Bebo para me divertir".
Projeção: Todos os sentimentos e a própria vida são vistos apenas no outro.) "O outro é quem bebe muito. O vizinho que é alcoólatra, coitado".
Autopiedade: O mundo não me entende. Nada dá certo pra mim. (Faz com que as pessoas sintam pena )
Minimização: "Só bebo vinho. Só bebo final de semana. Só bebo à noite; todo mundo bebe. Não bebo pinga". (Tenta minimizar os prejuízos)
Intelectualização: Encontram-se justificativas científicas: "Beber faz bem ao coração".
Racionalização: (raciocina-se errado) "Se eu beber só vinho vai estar tudo bem. Se eu parar por um tempo vai ficar tudo bem".
Mecanismos de defesa fazem parte da personalidade de todos os seres humanos, porém são mais pronunciados no alcoólatra.
O Alcoólatra pode encontrar mais justificativas para beber, numa semana, do que o não alcoólatra encontraria para fazer todas as outras coisas, durante a vida inteira.
O alcoolismo é uma doença de família:
A família também apresenta mecanismos de defesa. Há poucas expectativas em relação à recuperação, pois todos da família devem se tratar, não só o alcoólatra. Um alcoólatra dificilmente pára de beber. De cada 100 alcoólatras, apenas 1 consegue entrar num programa de recuperação. Os outros 99 morrerão sem querer parar de beber. Um dos fatores que levam o alcoólatra a continuar bebendo é a interferência de familiares que procuram apagar "o ontem à noite", procurando minimizar as perdas que a bebida traz. A falta de informação da população, a falta de profissionais preparados para esse tipo de atendimento, a falta de cursos sobre a dependência química em faculdades de medicina levam à ignorância em relação ao que poderia ser uma ajuda real.
A recuperação é difícil e depende da disposição do indivíduo em aceitar a ajuda necessária (ele só vai entrar num programa de recuperação se assim o quiser). Há vários programas de recuperação: religioso, de mútua ajuda, ajuda psicológica, programas místicos, etc. O importante é que o indivíduo se sinta bem com aquele que escolher. O maior inimigo da recuperação são as recaídas, que podem inclusive levar à morte.
A recuperação é um trabalho para anos e consiste em transformar uma vida até então marcada por brigas, egocentrismo, perdas, pensamentos obsessivos, etc, em uma vida produtiva. O processo de recuperação consiste, dentre muitas outras coisas, na identificação desses mecanismos de defesa, e no reconhecimento da verdadeira intenção por detrás destes. Por exemplo: muda-se de cidade para ver se as coisas melhoram. Assim há a falsa idéia de que mudando de cidade os problemas ficarão em outro lugar bem distante. Só que ele não admite a própria maneira doentia de usar drogas, e que os problemas são conseqüência do uso.
O dependente tem uma dificuldade incomum de identificar os próprios sentimentos, os quais são "projetados" no mundo exterior. Isso é dito para que se tenha uma melhor compreensão de como é impossível para um dependente químico lidar com todas essas mentiras que a sociedade nos ensina sobre a dependência, porque ele só consegue ver a própria realidade e os próprios sentimentos em outras pessoas. Ele realmente acredita que usa drogas ou bebe compulsivamente devido a algum motivo, um fator externo.
Por não conseguir desenvolver determinados sentimentos que não são "ruins" como ele pensa, esses sentimentos acabam transformando-se numa personalidade separada, desconhecida, chamada de "sombra" que só vem à tona em determinados momentos. Muitos a chamam de "demônio", mas na realidade é uma personalidade infantil, egocêntrica como toda criança. Essa personalidade desconhecida e temida pelo dependente e pelos familiares é justamente o MITO que tornou-se realidade através de uma profecia "auto-realizadora."
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